"Dentro de cada um de nós existe um ser que precisamos
conhecer. Esse conhecimento é elemento essencial para a ascensão espiritual, e
é conquistado através do reconhecimento e pleno domínio de nossas qualidades e,
principalmente, de nossos defeitos.
Todos nós, seres humanos encarnados aqui na Terra, nos
encontramos em constante aprendizado. Todos nós nascemos com nossa parcela de
ignorância, ganância, futilidade, intolerância, ira, ambição e tantos outros
adjetivos que definem tão bem nosso lado sombrio. Porém, o estado de
“perfeição” pessoal ao qual aspiramos não deve incluir apenas os aspectos
“bons” ou “luminosos” da natureza humana, descartando de nossa personalidade os
aspectos “maus” ou “sombrios”, fazendo de conta que eles não existem. Pelo
contrário, muitas vezes as características negativas que deixamos de reconhecer
em nós, são aquelas que inconscientemente irão controlar nossos atos e
pensamentos. Por isso é tão importante reconhecer e aceitar o nosso lado
sombrio, trabalhando na reformulação de nossos autoconceitos e atitudes.
O estado de perfeição humana deve integrar o ser “total”,
através do equilíbrio de forças, onde cada qualidade, positiva ou negativa, tem
seu lugar e está harmonicamente contida dentro de um todo. A natureza do
conflito “Luz” e “Trevas” não é boa nem má; é necessária ao desenvolvimento,
pois é através dela que conseguimos, eventualmente, ampliar e integrar nosso
“eu” total. A dualidade humana é muito perturbadora no sentido de que
aparentamos não perceber que tudo aquilo que se encontra na luz, projeta uma
sombra escura. O Bem e o Mal, quer ou não existam objetivamente, são impulsos
exteriores do pensamento humano consciente e inconsciente, ambos vivem dentro
do indivíduo e não no mundo fora dele; e
antes de serem dois inimigos eternos, devem ser encarados e definidos como duas
faces de um único indivíduo. Na verdade, aquilo que consideramos ser o “Mal”
não é senão a nossa ignorância acerca dos valores do nosso “ser total “, e de
nossa frequente tendência em nos retalharmos em pedacinhos, a maioria dos quais
jogamos fora e acreditamos que estamos livres deles porque não os aprovamos.
Por isso é tão necessário o autodescobrimento, para que possamos aprender a
enquadrar construtivamente nossas qualidades negativas dentro de nós mesmos.
Boa parte deste aprendizado é obtida através dos diversos
relacionamentos pelos quais passamos, sejam eles amorosos, familiares,
profissionais ou amigáveis; desde o nosso nascimento, e mesmo antes dele, em
nossas inúmeras vidas pregressas. Através dos relacionamentos, aprendemos a
compartilhar nossas diferenças e nossas afinidades. Cada um de nós é um ser
único e especial, crescemos de maneira diferente, em culturas e padrões sociais
diferentes, embora possamos compartilhar e dividir o mesmo espaço. Fazemos
parte de um delicado equilíbrio universal, que poderia ser afetado pelo simples
fato de nossa não existência.
Por isso, o primeiro passo para o autoconhecimento é compreender que
somos responsáveis por nossas ações. Tudo aquilo que acontece em nossas vidas,
de bom ou de ruim, somos nós mesmos que criamos. Nada acontece sem que tenha
sido idealizado e posto em movimento pelo pensamento. Durante toda a nossa vida
criamos o nosso mundo de acordo com nossos padrões de pensamento, que por sua
vez produzem uma realidade exterior. Misteriosamente, as experiências que
enfrentamos são atraídas para nós pelo poder de nosso próprio pensamento e,
embora não saibamos ao certo de que forma o interior e o exterior podem se
refletir mutuamente, sabemos que isso acontece na vida de todas as pessoas.
Essa é a primeira grande lição: aprender a nos tornarmos responsáveis por
nossos próprios atos e por aquilo que eles criam. Precisamos acabar com essa
tendência de tiramos de nossos próprios ombros a responsabilidade de nos
encararmos, e de ter que condenar e corrigir nossas próprias falhas.
Por isso, a melhor forma de iniciar o autoconhecimento é
refletir sobre as nossas dificultes em nos relacionar. Quando as outras pessoas
se tornarem negativas em contraposição à você, pergunte-se: Porque isso
acontece? Porque você necessitou estar com essa determinada pessoa naquele
exato momento da sua vida? E esta pessoa, ela pode crescer através de você?
Será que você não poderia ensinar a essa pessoa um caminho melhor? Encare as circunstâncias
da vida como um desafio. O que pode ser aprendido através desse processo de
espelho após espelho? Isso é necessário para que possamos aprender a “ver” ao
invés de apenas “olhar”, para que enxerguemos a nós mesmos.
Pode ser muito cômodo, mas não é nada honesto responsabilizarmos e
criticarmos os outros por aquilo que nós mesmos criamos e nos negamos a
enxergar. Tudo o que é externo é sombra. Toda a verdadeira vida e realidade são
internas. Por isto é imprescindível se conhecer e reconhecer, deixando de lado
a necessidade de projetar nosso lado sombrio através da busca de alguém ou algo
que nos complete. O autoconhecimento nos torna senhores de nossas próprias
ações. Somos transformados em seres inteiros, completos em nós mesmos, e vamos aos
poucos nos distanciando da ilusão do Eu para a verdade do Eu. A cada passo mais
próximos da perfeição."
Por Cristina Lessa Cereja
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