Por que não faço o bem que quero, mas o mal que não quero
esse faço". Paulo (Romanos, 7:19)
Em que estou melhorando? Quais conquistas interiores, mesmo
de pouca expressão, já consegui?
Via de regra, buscamos valorizar, tão somente, os largos
passos que já demos e nos esquecemos de que, no caminho evolutivo, a renovação
é feita de pequenos sucessos, às vezes imperceptíveis para nós, mas que se
destacam para aqueles que convivem conosco.
Os grandes obstáculos superados só aconteceram, porque já
nos municiamos, intimamente, para conseguir esse feito. Essa conquista
representa, entretanto, a soma de pequeninas vitórias que nos permitiram,
através do fortalecimento da nossa vontade e da nossa fé, superar essas dificuldades
maiores com maior coragem.
Muitos daqueles que convivem conosco perguntam como podem,
eles também, conquistar essa aquisição espiritual. Ermance Dufaux responde,
dizendo que: "A única postura que nos assegurará a mínima certeza de que
algo estamos realizando em favor de nossa ascensão espiritual, na carne ou fora
dela, é a continuidade que damos a projetos de renovação que idealizamos. Os
obstáculos serão incessantes até o fim da existência, não nos competindo nutrir
expectativas com facilidades mas sim a coragem e o otimismo indispensáveis para
vencer um desafio após o outro".
E para não desistirmos, para não abandonarmos esses projetos
é que necessitamos de Jesus para nos amparar e nos encorajar na continuação de
nossas lutas. Os convites contidos em seus ensinamentos são um alerta constante
para compreendermos a necessidade de renovação na nossa forma de pensar e de
agir em relação ao outro, pois, ainda, não entendemos o que fazem o bem e a
caridade, posto que, também, ainda, não entendemos esses ensinamentos na sua
essência.
Essa dificuldade é natural por não conseguirmos nos
libertar, no momento evolutivo em que nos encontramos, do egoísmo e do orgulho
que nos fazem pensar no "eu quero" e no "eu tenho",
vivenciando com essas atitudes nossos caprichos e desejos infantis. Daí a
desvalorização ou a não observação dos pequenos avanços que fazemos em direção
às conquistas espirituais mais elevadas.
Mas, como tudo caminha em direção ao Pai, também nós estamos
caminhando e dia virá em que tudo isso terá ficado para trás, assim como ficou
a nossa infância física. Nesse momento, é importante entendermos que sendo a
caridade uma expressão do Amor, ela deverá ser mais extensa dentro de nós, isto
é, deve abranger todas as manifestações da nossa vida.
A caridade sendo uma expressão do Amor torna-se, para nós, o
mais valioso recurso para iniciarmos essa conscientização. Ela não deve ser
restrita a algumas atitudes, mas deve abranger todas as manifestações da nossa
vida.
Encontramos algumas pessoas cordatas e calmas dentro de uma
casa de oração, ou numa reunião social, ou mesmo dentro do seu ambiente de
trabalho e, no entanto, aborrecem-se em seus lares, porque as coisas não
acontecem conforme seus caprichos ou desejos. Será que poderemos nos
identificar com essas pessoas?
Lembra-nos Emmanuel que quando estendemos a mão e
distribuímos ajuda material, já estamos iniciando a prática da caridade, mas
que não devemos nos esquecer - colocando em prática os ensinamentos de Jesus -
que existe também caridade no ouvir e no calar; existe caridade no impedir e no
favorecer; que podemos ser caridosos no esquecer - pelo perdão às ofensas
recebidas - e no recordar - pela gratidão aos benefícios dos quais fomos alvos.
A nossa própria evolução fará com que aprendamos a conciliar
nossa boca, nosso ouvido, nossos pés e nossas mãos com o trabalho no bem, sem
qualquer exigência. Sem perguntar a quem ajudamos, qual é sua crença religiosa,
ou sua classe social, sua escolha política, como nos explica Jesus na Parábola
de Bom Samaritano. Jesus veio para nos ensinar esse amor. Sentimento que altera
nosso comportamento e nossos valores.
No capítulo 15 de "O Evangelho Segundo o
Espiritismo", encontramos uma passagem muito significativa sobre a
caridade, segundo o Apóstolo Paulo. Está em uma carta que ele escreveu a um dos
povos da Ásia. Em determinado trecho, diz que mesmo que ele falasse as línguas
dos homens e dos anjos, mesmo que pudesse conhecer todos os mistérios, que
tivesse toda fé que pudesse transportar montanhas - conforme ensinou Jesus - se
não tivesse caridade em seu coração, não seria nada. Lembra, ainda, que entre
as três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a caridade é a maior delas.
Afirma isso, porque ela está ao alcance de todos, do ignorante e do sábio, do
rico e do pobre, porque independe de crenças particulares. É por essa razão que
uma das bandeiras do Espiritismo é: "fora da caridade não há
salvação", porque se apóia num princípio universal.
Todavia, qualquer renovação pretendida é um trabalho que
terá de obedecer a uma seqüência, pois as "viciações do ego repetido
durante várias experiências corporais e que cristalizaram a mente" (4) nos
domínios do orgulho exagerado, farão com que, inúmeras vezes, tenhamos que
recomeçar, revendo caminhos, escolhas, atitudes. E, muitas vezes, ainda,
cairemos no desânimo ao perceber quão pouco avançamos. O nosso orgulho nos dará
uma leitura ilusória da nossa capacidade de vencer os obstáculos em direção à
renovação.
Supondo que somos mais capazes que os outros para
realizarmos mais rapidamente essas novas aquisições, poderemos cair, como
efetivamente, caímos, na dura realidade de que precisamos primeiro nos
compreender de maneira transparente; depois nos aceitar, detectando, em nós, as
expressões do orgulho e do egoísmo, que tanto nos surpreendem, para depois, em
terceiro lugar, aprendermos a lidar com elas.
Não tenhamos pressa! É verdade que muito ainda temos que
caminhar, mas também, é verdade que muito já avançamos.
A formação do homem de bem é a meta fundamental da doutrina
dos Espíritos e Jesus nos convida, constantemente, a essa busca. Necessitamos
para isso de uma vontade ativa, ou seja, de fazermos o bem e não somente
desejá-lo para nós e para os outros (qualidade positiva) e de compreendermos
que não basta, tão somente, deixarmos de fazer o mal - a inércia e a
negligência estão na base dessa atitude (qualidade negativa) - mas que é
preciso fazer o bem.
Todos, pois, que praticam a caridade, em qualquer uma de
suas manifestações, são discípulos de Jesus, qualquer que seja o culto a que
pertençam.
Por Leda Flaborea